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23 - COMO SUPERAR A DEPENDÊNCIA EMOCIONAL

Chegou a um ponto perigoso, onde começaram a romantizar até a Dependência Emocional.

Agora, tudo é Dependência Emocional. A pessoa projeta que ficou dependente da outra e não está conseguindo sair daquela situação, gerando profundo desgaste e sofrimento psíquico (em alguns casos se sente como dor física de tão intenso).

Digo que é romantizado, pois a pessoa não se deu conta que já tinha os seus problemas antes. Já se sentia vazia, carente e ineficaz. Isso já fazia parte dela. Estava apenas procurando uma vítima para tentar suprir tudo aquilo que ela mesma não conseguia fazer. Isso pode ser considerado o ambiente propício perfeito para se gerar a Dependência Emocional, mas não essa como um todo por si só.

Para que você entenda do que se trata a Dependência Emocional na prática, pense sobre o indivíduo que permite que os outros afetem seus sentimentos e emoções. Através dessa permissividade cria dependência de que o outro sempre esteja fazendo mais sobre essa interferência. 

Entenda por dependência, não conseguir viver bem sem aquilo (no caso, o outro no relacionamento íntimo).

Para tornar ainda mais fácil a sua compreensão, faça uma analogia a um usuário de droga. Ele usa a droga para atingir determinado nível de prazer, principalmente em curto prazo. Chega um ponto, que sem o uso dessa droga, a pessoa por si só não consegue sentir o mesmo prazer com a vida. Por isso é tão importante não romantizar a Dependência Emocional.

Não é ‘bonitinho’ ser extremamente grudado no sentido negativo de precisar do outro para fazer todas as coisas (ou quase) da sua vida. Não adianta maquiar para que se confunda com compartilhar bons momentos juntos em sua maioria, porque quem vive a dependência há um longo tempo sabe que ela é o que é.

A Associação de Saúde Mental da América define a Dependência Emocional como “uma condição emocional e comportamental que afeta a capacidade de um indivíduo de ter um relacionamento mutuamente saudável e satisfatório”.

O próprio termo, Dependência Emocional, foi criado avaliando o comportamento de familiares de dependentes químicos. O termo Codependência teve origem nos estudos com a Dependência química e foi atribuído aos familiares, partindo do princípio de que os familiares de dependentes químicos também apresentariam uma dependência, não das drogas, mas Dependência Emocional ou uma preocupação constante e fixa no dependente. Posteriormente, tornou-se claro que não é necessário conviver com um dependente químico para sofrer de Dependência emocional.

“O que define a liberdade é o ser ­para ­si; o que define a servidão ou dominação é o ser ­para­ o outro”. (Hegel)

No início do relacionamento, confesso que pode ser difícil para o Dependente perceber que está nessa situação. Quer ver um exemplo clássico?

Pegue uma pessoa que consome bebidas alcoólicas quase que diariamente em quantidade considerável, mas que ainda se faz funcional (trabalha, tem alguma saúde e rotina). Se essa pessoa faz isso há algum tempo, possivelmente já é dependente do álcool e não sabe. Facilmente classificada como alcoólatra se seguirmos os parâmetros do nosso DMS à risca do diagnóstico clínico científico.

Chegue para essa pessoa em um desses dias comuns de sua vida que ela esteja consumindo o álcool, e fale para ela que deveria pensar sobre o assunto, que possivelmente ela é uma alcoólatra.

A primeira reação da pessoa vai ser a negação. Vai falar de alguma maneira que você está ficando louco e não tem nada a ver, que só bebe por que gosta, e é só para relaxar.

Caso você insista, em um segundo momento essa pessoa vai ficar com raiva por você tentar aproximá-la de uma realidade que para ela ainda se mantém de fundo, quase que inconsciente. 

Com o Dependente Emocional a jornada caminha no mesmo sentido. O dependente faz de tudo para convencer a si mesmo, e depois o envolvido, que tudo o que ele faz é uma manifestação de amor profundo e mais significativo do que o normal comumente visto nos relacionamentos. Isso se chama racionalização: a habilidade de dar nomes e justificativas ‘bonitas’ censurando a realidade para torná-la mais aceitável de viver.

A Dependência Emocional é um problema profundo que normalmente começa desde a infância. Não que uma criança já nasça Dependente Emocionalmente, mas a sua relação com os pais durantes os primeiros anos de vida, e posteriormente as primeiras relações sociais, podem gerar insegurança ou excesso de satisfação, levando esse indivíduo a se constituir como um adulto dependente.

O superprotegido, que vive em uma bolha, terá um choque de realidade quando não tiver mais essa zona de conforto. Se você tem um relacionamento íntimo real, por melhor que ele seja, sabe que até o melhor dos relacionamentos carrega seus desafios, exige muitas transformações e chama muita responsabilidade para ambas as partes.

Ao entrar na vida real sem sentir o que lhe supria antes, de forma automática é até inconsciente, irá buscar se satisfazer como fazia quando criança. Na prática isso significa que vai depositar expectativas de que o parceiro possa suprir os ganhos exagerados que recebia quando era mais novo.

Adivinha? Dificilmente isso vai acontecer, e mesmo que acontecesse não seria bom para o próprio desenvolvimento e evolução dessa pessoa como ser humano.

Na outra polaridade você encontra a criança que registrou eventos traumáticos. Imagine uma criança que foi alienada. Não recebeu a segurança e o carinho das figuras materna e paterna. Parte do contato que teve foi crítico, com linguagem pesada, castigos, falta de entendimento e orientação.

Essa criança cresce e se torna um adulto com esse vazio do início da sua vida. Uma parte dela irá procurar ser correspondida, acolhida e amada tal como não foi (ou em alguns casos acredita que não tenha sido) quando considerou que precisava (e realmente era necessário).

Só que na vida real, qual é a chance de uma outra pessoa que você nem conhece de início suprir tudo isso nessa pessoa? E novamente, mesmo que fosse feito, também não seria bom para o desenvolvimento desse indivíduo, que ficaria estagnado nesse quadro de dependência.

Imagine se essa pessoa encontrar alguém que corresponde a dependência e esse alguém termina com ela repentinamente? Seria como tirar o chão da pessoa. Esse indivíduo entra em colapso, num estado profundo de angústia e depressão. Adultos precisam ter seus níveis de independência para se relacionarem com o mínimo de qualidade real.

Então, o que fazer?

A saída para essa situação é o autoconhecimento, e acredite, não estou falando de algo filosófico abstrato, mas sim de conhecimento real sobre si próprio.

Primeiro, a pessoa precisa (no literal) saber, ou seja, ter conhecimento de que se encontra nessa situação. É um grande passo e se faz necessário muita coragem.

Precisa compreender todos os malefícios que sua própria presença nesse contexto gera não só para si própria, mas também para aqueles à sua volta que ela considera amar. Pensando em relacionamento íntimo é extremamente catastrófico visualizar as consequências da dependência emocional, mas não se faz tão diferente em relações familiares e entre amigos.

Essas relações são moldadas pelo medo de ser abandonado, o medo vai fazer com que a pessoa se submeta a todos os tipos possíveis de abusos ou negligências para que a relação se mantenha. Consegue ver o risco que isso se torna no sentido de conhecer alguém ruim, mau-caráter ou até narcisista, que pode se alimentar dessa vulnerabilidade para satisfazer o próprio ego?

O dependente não deixa de romper a relação por falta de vontade. Ele simplesmente se sente incapaz de tomar a atitude e lidar com as consequências, pois ficar sem o objeto de amor nesse nível viciante e doentio é insustentável. 

Não sei se você já trabalhou com dependentes químicos ou até mesmo tenha visto algum filme de alguém tentando se desintoxicar da dependência. É um processo pesado, triste e doloroso que precisa de tempo, resiliência e suporte para o enfrentamento. Dependência não é frescura.

Pode-se dizer em outras palavras que ao dependente tentar se desligar do relacionamento ele se depara com uma crise de abstinência. A tendência é que busque reatar a relação a qualquer custo para parar de sofrer com essa abstinência. 

A pessoa precisa perceber o quanto esta relação está interferindo em sua vivência, uma vez que ela deixa sua vida social, profissional, familiar em segundo plano para viver em função do ser amado, alimentando mais ainda este vício psicológico.

Portanto, é primordial melhorar a autoestima e resgatar o autorrespeito já que os dependentes emocionais consideram que não são merecedores de coisas boas, sujeitando-se a qualquer tipo de situação.  

É importante que tais pessoas recuperem também a autonomia, identificando os recursos internos que necessitam desenvolver para iniciar este processo de individuação e se abrir para relações saudáveis, do contrário irão repetir o mesmo comportamento em outros relacionamentos.

É a partir do autoconhecimento, deste olhar para si, que é possível compreender quais são as dificuldades não elaboradas que a leva a buscar, ilusoriamente, a solução nos relacionamentos tóxicos e abusivos.

É preciso aprender a diferenciar apego de amor. O primeiro aprisiona e o segundo liberta.

Tenho um caminho para te ajudar na construção desse Desenvolvimento Pessoal através da Academia de Relacionamentos.

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01 - O que um psicólogo faz?

Julio Furlaneto

Psicólogo
CRP 14/05550-0