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Como lidar com a traição

A traição conjugal, ou aquela vivida em um relacionamento íntimo de qualquer formato, é um assunto que sempre gera inquietação, mexendo com os ânimos.

Compreensível, considerando que muitos já passaram por alguma situação de traição, seja tendo sido traídos de fato, imaginando sem provas do possível ocorrido, ou até mesmo sendo autores dos atos da traição em si.

Nos atendimentos clínicos como psicólogo a incidência da traição nos relacionamentos é assustadora, onde as pessoas buscam através da psicoterapia um caminho para recuperar o equilíbrio mental.

Veja algumas informações sobre pesquisas recentes abordando o contexto da traição.

Um estudo publicado no periódico Journal of Personality and Social Psychology em fevereiro de 2021 analisou 233 casais e mapeou os principais contextos em que as puladas de cerca acontecem. Segundo os pesquisadores, os mais jovens são mais propensos a trair a confiança de um parceiro, assim como os indivíduos que afirmaram ter pouca satisfação geral com o relacionamento. Surpreendentemente, as pessoas com alto grau de satisfação sexual eram mais propensas a trair os parceiros. Os pesquisadores acreditam que quem está sexualmente satisfeito é, em geral, mais aberto a ter novas experiências sexuais. Homens que se envolveram em muitas relações de curto prazo antes de se casarem eram os melhores candidatos à infidelidade, mais tarde. Mas com as mulheres aconteceu o contrário: as monogâmicas em série eram mais propensas a buscar um envolvimento extraconjugal.

Você confiaria em alguém que já traiu? Um estudo de 2017 publicado no periódico Archives of Sexual Behavior observou 500 adultos durante dois relacionamentos. Os pesquisadores pediram aos participantes que eles reportassem as infidelidades e se eles sabiam ou suspeitavam da traição do parceiro. Ao final do experimento, os participantes que reportaram serem infiéis no primeiro relacionamento tinham três vezes mais chances de serem infiéis na segunda relação. E ser traído parece que é uma constante também. Os voluntários que reportaram saber que o parceiro do primeiro relacionamento foi infiel, tiveram duas vezes mais chances de serem traídos novamente em outra relação.

Se você buscar na internet encontrará vários estudos de universidades, empresas e instituições com resultados estatísticos sobre grupos de pessoas avaliadas, que mostram, infelizmente, que a traição é mais comum do que se imagina.

Aplicativos específicos para pessoas casadas ou comprometidas encontrarem alguém para trair estarem crescendo exponencialmente nas redes globais é mais uma prova desse fenômeno.

É um tema que precisa ser abordado, falado e discutido. Quando você pensa em traição, naturalmente o primeiro gatilho que vem à mente é a falta de caráter do autor. O que de fato tem seu sentido, porém ainda deixa o entendimento do ato às cegas.

Vários fatores podem influenciar em uma traição no relacionamento, tais como: 

  • Crenças: como essa pessoa foi educada? Quais valores absorveu sobre o masculino e feminino desde a primeira infância? Com quem conviveu? Quais influências ambientais sofreu durante a formação da sua personalidade (até por volta dos 21 anos de idade)? Entre outros. Lembrando que parte dessas crenças rodam no piloto automático de forma inconsciente no indivíduo e impactam nos seus comportamentos e decisões do dia a dia.
  • Qualidade de vida do casal;
  • Qualidade de vida individual;
  • Como lida com as frustrações e a busca de prazer;
  • Necessidade de autoafirmação social;
  • Baixa autoestima e ou falta de confiança em um futuro próspero conjugal, por mais contraditório que pareça, considerando que o ato de trair obviamente irá piorar a relação ou acabar com ela.

Lidar com a traição, independentemente de quaisquer que sejam as motivações (ou ausência dessas), é um processo doloroso, pois trabalha a desconstrução da imagem que você tinha da pessoa que compartilhava a vida. De um momento para outro se mostra um(a) completo(a) estranho(a) com o novo ato invasivo, quebrando toda a percepção de respeito e confiança da unidade casal.

Escolhi o termo “lidar”, porque é fácil dizer que basta chutar o balde em uma situação assim e seguir em frente, terminando e tocando a vida cada um para o seu lado, mas na prática não é bem assim.

Em uma pesquisa que realizei nas minhas redes sociais (com mais de 1.000 participantes), que têm um público bastante interessado em viver um relacionamento saudável, tema que abordo com frequência, fiz uma série de perguntas que me levantou estatisticamente a este resultado: 52% das pessoas que já foram traídas tentaram ficar bem juntas, e uma porcentagem obviamente menor, conseguiram.

Percebe? Não se trata da minha opinião, mas muitos batalham para restaurar o relacionamento após uma traição. Esse texto não tem o intuito de julgar o ato imoral e condenar, exigir algum tipo de punição, mas sim, o objetivo de trazer a problemática à tona para que seja abordada com mais seriedade. Contando também com o óbvio constrangimento que algo assim gera para o ser humano envolvido ao ser exposto, sendo que o ato em si já é uma exposição.

Tanto para a pessoa que decide se afastar de quem a traiu e seguir a vida sem essa, como para aquela que decidiu continuar junto e tentar superar a situação é preciso amadurecer a percepção do contato conjugal para conseguir seguir em frente. 

Entender a própria sombra, os conteúdos inconscientes reprimidos, as próprias crenças, a dificuldade que tem em lidar com questões aversivas, sociais, culturais etc. é uma jornada longa que precisa ganhar espaço prioritário na vida de um casal que realmente deseja viver um relacionamento saudável, inteligente e duradouro.

Tenho uma videoaula falando com profundidade sobre esse tema disponível na Academia de Relacionamentos. Recomendo que assista e dedique um tempo para a nossa área de membros, para debatermos melhor as percepções individuais de cada um.

01 - O que um psicólogo faz?

Julio Furlaneto

Psicólogo
CRP 14/05550-0