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Ansiedade o grande mal

Sabe o que é interessante?Fala-se de ansiedade como se essa fosse uma vilã sendo um personagem, alguém com vontade própria, consciência, e muito trabalho, com o objetivo de destruir a sua vida.

Há diferenças entre ansiedade e transtornos de ansiedade. A ansiedade faz parte da vida; todos nós temos ansiedade e isso não é sinal de doença; mas, existe a ansiedade patológica, doentia, reconhecida por sintomas característicos, como, durabilidade e excesso de preocupação de que algo ruim possa acontecer.

Pessoas nessas condições se preocupam excessivamente com quase tudo e não conseguem relaxar. Esse tipo de ansiedade pode ser definido como doença psiquiátrica e se manifesta de várias maneiras.

E sabe o que é estranho?

Tudo o que precisa ser conversado para prevenir-se de desenvolver condições ansiosas de doença no corpo e na mente, não ganha espaço, muito menos prioridade para discussão, e principalmente, intervenção.

A ansiedade nesse sentido é um sinal de que algo não vai bem com a sua psique, com a sua relação com as pessoas e com o mundo. Pode ser um indicador de um vazio existencial, uma dicotomia entre o que você deseja e o que consegue. Uma desconexão com a realidade, com o momento presente, ou como nos referimos em Gestalt-terapia, o aqui e agora.

O corpo é complexo. As causas dessa ansiedade podem envolver fatores biológicos, psicológicos e existenciais, e aqui entra o problema. 

Usa-se comumente, de forma equivocada, os fatores biológicos para justificar o caos, e não para buscar um tratamento adequado e restaurar a saúde. “Nasci assim por culpa da minha genética, e pronto”.

Usa-se também, dos fatores psicológicos, para se vitimizar, justificando o mal vivido através da ansiedade patológica com agentes culpados, sendo esses pessoas, experiências ou ambientes mais amplos que passam pela sua vida. Então a culpa é sempre do outro, começando em muitos casos, por papai e mamãe.

Usa-se, inclusive, os fatores existenciais, ops…. esses não se usam, pois nem se fala sobre, e te garanto por experiência clínica há mais de uma década, que é a causa de muito desconforto de quem vive prejuízos advindos da ansiedade.

Ou é feito uma pausa para avaliar de forma consciente, buscando boa informação, e principalmente, avaliação e orientação qualificada, ou o problema se expande, e amanhã, um mais do mesmo potencializado do caos que já foi vivido ontem.

Para Perls (2002), a ansiedade é a excitação, o entusiasmo vital que carregamos conosco e que se torna estagnado se estamos incertos quanto ao papel que devemos desempenhar. Ela é o vácuo entre o agora e o depois, e é o produto do impedimento de viver plenamente a excitação. Se esta excitação não puder fluir para a atividade por intermédio do corpo, então procuramos dessensibilizar o sistema sensorial a fim de reduzir a excitação, causando assim a ansiedade.

A ansiedade é essa energia contida, como que “presa”, que não encontrou seu caminho, quando o indivíduo não elaborou algo do mundo. O indivíduo ansioso geralmente sente angústia, tem sensações no corpo também que podem envolver por vezes a respiração.

Assim, a pessoa ansiosa tem outra vivência de mundo, chegando por vezes até a ter dificuldades nas relações ou a ver este “mundo” de uma nova maneira criada a partir desta contenção da energia, o que faz com que encontre alguma forma de expressá-la que não é saudável, nem a mais adequada, fazendo com que não permaneça no momento presente, geralmente apresentando pensamentos voltados ao futuro.

Continuando, vamos refletir sobre a ansiedade antecipatória, uma das “armadilhas” mais interessantes criadas pela mente humana. Esse tipo de ansiedade se caracteriza por um temor que causa exatamente o que o provoca. Por exemplo, um indivíduo que está com medo de enrubescer (ficar vermelho), ao ter de apresentar um trabalho na faculdade — diante do olhar de todos — está mais propenso a enrubescer nessas condições.

A ansiedade antecipatória chega a ser cômica, porque faz o indivíduo obter exatamente o que ele pretende evitar.

Outra ironia da mente humana, decorrente da ansiedade antecipatória e que é um fenômeno abordado em certos livros populares como o “segredo” é o fato de que dificilmente se obtém aquilo que se “intenciona” excessivamente. Intencionar, isto é, querer de maneira forçada gera tensão e, em muitas situações, produz o contrário do que se pretende. Esse fenômeno pode ser observado, em especial, em casos de “transtornos” sexuais, como nos mostra Viktor Frankl (1985, p 82 ):

“Quanto mais um homem procura demonstrar sua potência sexual, ou quanto mais a mulher tenta mostrar a sua capacidade de experimentar o orgasmo, menos chances de sucesso terão. O prazer é e deve permanecer efeito colateral ou produto secundário; ele será anulado e comprometido na medida em que dele se fizer um objetivo em si mesmo”.

De acordo com Frankl, a fixação em uma ideia ou intenção (ex: Não ficar vermelho ao falar em público, ter a melhor performance sexual) é chamada de hiperintenção. Além disso, quando o indivíduo está neste estado de intenção exagerada é comum que a sua atenção se desprenda da atividade em questão e retorne para ele próprio, fazendo-o experimentar uma espécie de atenção excessiva ou hiper-reflexão, quanto ao que está acontecendo em sua mente/corpo.

Do ponto de vista cognitivo, pode surgir uma preocupação com a própria performance; do afetivo, o medo de falhar ou de acontecer o que mais se teme; e do fisiológico, tensão e estresse corporal.

Em síntese, a ansiedade antecipatória envolve um estado de intenção forçada, em conjunto com uma atenção excessiva dos próprios pensamentos, sentimentos e reações corporais relacionados a essa intenção. Ela remove o indivíduo do momento presente, lançando-o em um oceano de preocupações, que se endereçam, principalmente, ao que os outros pensam dele.

Por outro olhar, a terapia junguiana parte de conceitos como os arquétipos ou o inconsciente coletivo para mostrar uma ideia. O ser humano compartilha um mesmo substrato psíquico de onde surgem alguns elementos comuns que nos definem. Existem alguns instintos, sombras e impulsos que todos compartilham.

A ansiedade é aquele tapete sobre o qual, de alguma forma, todos nós nos movemos diariamente. É uma emoção carregada de sofrimento que parte do acima mencionado: a sensação de que vivemos em um ambiente que nem sempre é seguro.

Agora, embora todos os seres humanos tenham essa dimensão em comum (de forma latente ou manifesta), há um fato que define essa abordagem e que Jung esclareceu na época através da psicologia analítica. Somos obrigados a nos individualizar. Emergir dessa estrutura que todos nós compartilhamos para nos vermos como seres autônomos e independentes.

Dessa forma, cada pessoa que lida com a ansiedade diariamente deve ser capaz de definir o que sente, o que percebe e, acima de tudo, do que precisa.

A terapia junguiana usa uma metodologia próxima, um procedimento dialético em que o terapeuta deve ser capaz de se conectar com a personalidade do paciente para estimular o seu conforto e autonomia. Perceber-se, em essência, como um agente ativo da sua cura.

Agora, com um olhar sobre a neurociência, a ansiedade crônica forma uma trilha no cérebro, um caminho que determina como sentir, pensar e agir. Uma abordagem que tenha por objetivo não apenas reduzir os sintomas deve modificar esse caminho, essa trilha no cérebro. 

Há uma máxima em neurociências, a de que ‘neurônios que disparam juntos permanecem unidos’. Isso significa que as conexões do cérebro se fortalecem ou ficam mais fracas com o passar do tempo, dependendo do quanto e como são utilizadas. 

Nas regiões do cérebro responsáveis pela ansiedade de pessoas que sofrem com transtornos ansiosos, há um fortalecimento de feixes neuronais, de canais de informação e reação relacionados à preocupação excessiva. Esse fortalecimento leva a um estado distorcido na interpretação dos acontecimentos e das sensações corporais. Na presença do transtorno de ansiedade, quase tudo leva a dúvidas e preocupações que, se não incapacitam, solapam a qualidade de vida e prejudicam as tomadas de decisões.

Felizmente, essa é uma via de dupla mão, ou seja, o tratamento deve ter por objetivo não apenas enfraquecer as trilhas neuronais responsáveis pela ansiedade exagerada, mas também criar e fortalecer novas estruturas, novos caminhos mais saudáveis, permitindo que a preocupação exista, mas de modo proporcional às ameaças e desafios da vida, e limitada no tempo.

Essas conexões cerebrais ocorrem em áreas específicas do cérebro e todas dependem de transmissores químicos, como a serotonina, a adrenalina ou a dopamina. Em alguns casos, é necessário o acompanhamento farmacológico, onde os remédios têm ação sobre um ou vários transmissores químicos, e sua escolha vai depender do quadro clínico, dos sintomas apresentados, pelos quais é possível realizar uma inferência de quais áreas e possíveis neurotransmissores estão exigindo correção.

Trouxe apenas quatro exemplos breves (Gestalt-terapia, Logoterapia e Análise Existencial, Psicologia Analítica e Neurociências) de olhares diferentes sobre a ansiedade na condição humana, dentro de algumas das maiores, importantes e significativas abordagens psicológicas, para que você perceba como é necessário expandir a percepção sobre si mesmo para criar os ajustes necessários em sua vida. Também é preciso uma intervenção correta para o seu caso específico.

Assista às aulas e leia o e-book sobre ansiedade na Academia de Relacionamentos. E lembre-se, nenhum material substitui a psicoterapia.

01 - O que um psicólogo faz?

Julio Furlaneto

Psicólogo
CRP 14/05550-0